Voltar | Ajuda
     
     Em tempo real  
 Destaques
 Economia
 Educação
 Esportes
 Geral
 Mundo
 Política
 Ciência e Saúde
 Tecnologia e Internet
 Variedades


  VilaBOL
VilaBOL

 
Notícias >
 
Envie esta páginaEnvie esta página

Sábado, 05 de abril de 2003 03h22
Solidão guia a literatura de Murakami
da Folha de S.Paulo

Nada de sushi, tatame, ikebana ou origami. "Minha Querida Sputnik" (Objetiva), de Haruki Murakami, 53, mostra mais uma vez que é ele o autor com olho menos puxado das letras japonesas.

Leia a seguir entrevista na qual ele fala sobre o romance -que trata do amor de uma jovem escritora por uma mulher casada, 17 anos mais velha- e dá as pistas de sua literatura. Leia trechos.

Folha - "Minha Querida Sputnik" reúne algumas das características mais frequentemente apontadas para a sua literatura: gosto pela solidão, algumas referências à cultura pop, um humor discreto, mas constante, e o sexo desempenhando um papel importante na história. Quais desses elementos o sr. enxerga neste romance e em sua prosa, de modo geral?
Haruki Murakami
- Os protagonistas das minhas histórias são quase sempre essas pessoas que estão vivendo mais ou menos fora do eixo central da sociedade. Nesse sentido, vivem sim basicamente na solidão. Construir amizades com outros não é uma de suas primeiras opções.
Por outro lado, como eu não pretendo escrever uma história desesperançada, o senso de humor necessariamente entra como um dos meus elementos.

O sexo tem a função de uma chave para abrir as portas aos corações mais trancados.

Nos tempos de hoje, muitas das principais informações são metaforicamente direcionadas para uma sofisticada rede de canais chamada cultura pop.

Dessa forma, seus pontos podem ser verdadeiros. É importante frisar, porém, que esses elementos são só uma linha-mestra do que escrevo, não os únicos guias de meu esforço criador.

Folha - Em sua carreira literária o sr. já escreveu sobre um elefante que desaparece na frente de todos e em "Sputnik" também faz desaparecer uma personagem. Este romance não é totalmente fantástico, mas esse elemento mágico parece central para ele. Quão importante é esse tipo de "ilusionismo" para a sua obra?
Murakami
- Eu não consigo me interessar por escrever romances realistas. O principal objetivo de minha narrativa é transformar algumas imagens pouco convencionais em palavras. Imagens, em geral, surgem da região mais profunda de nossa mente. Dividir a existência dessas imagens com os leitores é importante. E é uma forma de amaciar nossas solidões.

Folha - O sr. se considera um autor pop, como sempre lhe tacham?
Murakami
- Eu não dou muita importância à reflexão se sou um escritor sério que usa uma voz pop ou um autor pop em busca de temas sérios. Isso foi, e sempre será, minha tendência geral, ter os dois lados dentro de mim.

Quando eu era adolescente, por exemplo, Raymond Chandler e Dostoiévski eram ambos escritores perfeitos para mim. Ainda acho isso. Na música, ia, e vou, de Beach Boys a Bach.

Folha - O sr. parece dialogar muito mais com as referências ocidentais do que com Tanizaki, Kawabata e outros clássicos modernos japoneses. O que há de Japão em sua literatura?
Murakami
- Manuel Puig é um dos meus autores prediletos. Alguns de seus livros se referem muito à cultura pop americana. Mas isso acontece espantosamente com características muito argentinas. O que tento fazer é o mesmo. A reconstrução do cenário familiar por citações efetivamente estrangeiras. Só me interesso por escrever sobre japoneses vivendo no Japão, mas não quero de modo algum fazê-lo em um estilo "japanesco".

Folha - Como um autor de ficção, o sr. já discutiu a guerra. Como um ensaísta, o sr. entrou no mundo do terrorismo. Que modelo o sr. escolheria para escrever sobre o ataque americano ao Iraque?
Murakami
- Na minha modesta opinião é muito difícil exterminar totalmente as raízes do terrorismo puramente com ações militares. As raízes podem ser cortadas, mas não morrerão. Vão se deslocar ao profundo subterrâneo. Um dia, em outro lugar, elas voltarão, de modo ainda mais perigoso. Ou seja, não acredito que esta guerra possa trazer qualquer melhoria.

MINHA QUERIDA SPUTNIK. Autor: Haruki Murakami. Editora: Objetiva. Tradução (do inglês): Ana Luiza Dantas Borges. Quanto: R$ 34,90 (236 págs.)

Envie esta páginaEnvie esta página

Notícias >